segunda-feira, 1 de março de 2021

Como é que se escreve a um amor que já não é nosso?


Estou sentada com um lápis e um bloco na mão, o café arrefeceu e o meu coração também. Ouço o ponteiro dos segundos a passar e o tempo parece que está paralisado. Há todo um burburinho dentro e fora de mim. As pessoas correm para parte nenhuma pois não conhecem o verdadeiro destino, e eu, que sei que destino me espera, mantenho-me à espera que chegue.

Hoje, ao escrever-te, meu amor, não sei como te hei de escrever. Já não és o que foste em tempos e, por isso, amo-te. Deixámos de ser crianças sem nunca o deixar de ser. Moldámo-nos com o tempo e com o que a vida, a seu tempo, nos fez viver.

No fundo do meu ser, sei-o. Na tona da minha pele, sinto-o. Creio e faço crer que no mundo existem coisas para ser para sempre, dure o sempre o tempo que tiver que durar. Tu, meu amor que já não é meu e sim, quiçá, de outro alguém, és um para sempre. O que garantidamente levarei quando o destino chegar e que guardarei até então.

Puxo do cigarro. Revejo-te sentado na cadeira vazia que me faz companhia e sorrio com saudade. Tu estás, mas não na totalidade da emoção que desejo de ti. Há a voz, mas não o beijo. Há o corpo, mas não o toque. Há a presença, mas não... Não. Não há pois não te posso mais ter. O tempo já lá vai e é tempo de seres teu.

O café arrefeceu, o cigarro apagou-se e o destino não tarda a chegar. Até lá, amor, continuas a ser meu.

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