quinta-feira, 30 de julho de 2015

Cartas de amor

O que seria do amor sem cartas? Sem declarações loucamente sinceras de paixão carinhosa. Sem o «do teu José» para a «Livinha muito amada» e as saudades entre cada notícia escrita. Em folhas já meio rasgadas e cheias de marcas do tempo está a historia de um amor que dura mais de cinquenta anos. Um amor em cartas. Um amor em preocupações e novidades partilhadas por letras desenhadas a esferográfica em papel amarelado.
Todos os amores querem cartas e este teve todas as que qualquer um pode querer. O amor requer paciência, rigor e precisão no delinear das palavras. Não são precisas grandes aventuras para que seja escrita uma carta e para fazer dela uma carta de amor. São o conjunto de várias que por contarem uma verdadeira história, fazem delas provas desse amor.
Amor escrito.
Longas histórias.
Amizade e união.
Boas novas apressadas.
Declarações demoradas.
Laços em construção.
Letras contorcidas.
Papéis amassados.
Correspondência apaixonante.
Cinquenta anos amados.
Uma vida a dois.
Mil experiências vividas.
Serenatas escritas.
Intimidades juvenis.
Conquistas sem beijos.
Distâncias de abraços.
Esperas eternas.
Reencontros infinitos.
Cartas de amor.
Amor.

quarta-feira, 15 de julho de 2015

Vou caminhando pela rua procurando-te em cada canto à luz dos candeeiros velhos sem saber por onde andas. Bate na cal das casas o prateado da lua. Gelo a pele com a brisa que sopra de mansinho. Não te escondas de mim. Encontro-te por entre vielas e avenidas cheias de nada. Numa estrela atrás de uma nuvem, num canteiro de rosas, num lençol branco a cheirar a sabão pendurado numa varanda verde. Encontro-nos abraçados debaixo de uma árvore, à beira rio, a trocar silêncios. Está frio e espero-te num banco de pedra. Hás-de chegar e segredar-me algo ao ouvido de olhos fechados. "Gosto de ti". Vais-te sentar ao meu lado e pegar-me na mão.
Continuo a andar por aí, à tua procura em tudo no meio do nada. Não vou parar enquanto não estiver colada ao teu peito, enquanto não tiver chocado contigo nos meus passos apressados. O amanhecer está a chegar e com ele o teu beijo de bom dia. Sei que também me procuras por aí no teu mundo. Há uma mistura de tons do luar e da aurora. Iluminava-me o caminho dourados e prateados puros. Não te percas por aí. Não te esqueças de mim. Vem. Demora o tempo que precisares.
"Gosto muito de ti".


segunda-feira, 6 de julho de 2015

Funchal, my sweet home


Uma vida contigo

Não tenho o poder de prever o futuro nem o dom de mudar o passado. Não me arrependo de muita coisa e se pudesse mudaria muitas outras. Se me perguntassem como nos conhecemos, diria que crescemos juntos. Não quero imaginar uma vida contigo apesar de isso fazer parte da nossa evolução enquanto seres pré-adultos. Não quero casar contigo, nem ter filhos e netos. Não quero viver na mesma casa que tu. Não quero partilhar a vida com aquele que hoje partilha sorrisos e mágoas comigo. Não quero receber notícias tuas quando estiveres longe ou flores quando estiveres perto.
Ou talvez queira. Talvez imagine tudo isso uma e outra vez. Vezes sem conta.
Quando um dia esbarrarmos, onde o inesperado tem hora marcada, vamos estar como agora, o antigamente do futuro, a falar sobre como as nossas vidas tomaram rumos diferentes. Pode ser que continuemos assim, ou que tudo dê uma reviravolta gigante e o que é, mude. Tento não me preocupar muito com o que nos poderá acontecer. Nada é certo e a única certeza que tenho é que o que temos, por durar tanto tempo, não será finito. Se é errado gostar tanto de ti? Não sei se será. Mas a vida está repleta de erros propositados e necessários. Quantas palavras não deviam ter saído desta boca por serem tão demasiado sinceras. Quantos gestos deviam ter ficado por realizar. Sou tão jovem e idiota. Não sei ao certo o que é sentir o que alguém que ama sente. Mas não me podes culpar, eu tento. Tento não pensar tanto mas algo que me caracteriza é o pensamento constante. Mostrei-te incontáveis vezes o que és para mim, mesmo que na maioria delas, não te tenhas apercebido disso. Faço-o às escondidas.
Independentemente do amanhã, ainda temos o hoje. Aproveitemo-lo ao máximo porque afinal de contas, ainda nos temos um ao outro.