quinta-feira, 10 de agosto de 2017

A M O R (T E)

Penso muito na morte. Talvez mais do que devia.
Penso muito no amor. Talvez menos do que devia.
A cada dia que passa, esta palavra vestida de preto teima em não me largar da mão. Toma todas as formas e feitios e vem, do nada, bater-me na cabeça para querer ficar. Já não é a primeira vez. E minto ao dizer que será a última.

Gosto de pensar em ti. (?) Gosto? Possivelmente, pois caso contrário não o faria com tanta frequência. A tua voz ensurdece-me lentamente. Enches-me de ideias absurdamente aliciantes e tiras-me as forças, uma a uma. Que fazes tu com elas e por que mas queres todas?
A toda a hora assisto à batalha entre ti e o Amor. E eu que sempre quis acreditar que vocês deviam ser grandes amigos. És gananciosa e tentas tirar-lhe o lugar que lhe dou. Queres a luz da ribalta só para ti e sempre que ele aparece, atacas com todas as tuas armas.
Que queres de mim? Ocupas tanto espaço que nem consigo respirar. Tiras-me o sono, o apetite, o sorriso... Obrigas-me a afastar todos só para resolver tudo contigo.
Não vai doer? Prometes? E eles? Que será deles sem que lhes diga nada? Eu vou contigo, sou tua e tu sempre foste minha. No final das contas, estiveste aqui em todas as ocasiões. Fizeste questão disso. Obrigada. (?) Agradecer-te? Talvez pelo sofrimento que me causaste e pela dor de que me poupaste. Mas tu não me poupas. Esgotas-me até à exaustão. Até não dar mais. Até não ser mais. E o Amor, aquele que sempre prezei e guardei para que nunca faltasse a ninguém, falta-me a mim. Estou doente, com um défice de Amor-próprio e o que os outros me dão, não é suficiente, ou compatível. O que os outros me dão não chega e é um Amor pequenino e escondido que parece que tem vergonha de se mostrar. É de mim? Será isso que me queres dizer, Morte? Que é de mim a vergonha dele(s) e reside em mim a culpa da minha própria desgraça? Aceito-te agora, tal como és, porque fazes o mesmo. Não me queres de outra maneira, só assim, da maneira que sou e nem eu entendo.
Eu amo, sabes? Ainda assim, eu amo. Muitos corações, cada um a sei jeito. Uns de azul, de roxo, amarelo, verde ou cor-de-rosa. De que cor será o meu? Tem cor? Cegaste-me com o teu negro e não sei de que cor é o meu coração.
O coração azul que amo é o mais pequenino. Nasceu há pouco tempo e cuido dele todos os dias. De vez em quando tento ensiná-lo a amar sozinho, para o caso de um dia fugir contigo e já não voltar. Seria egoísta da minha parte se o deixasse sem estar preparado. ... Mas não vou deixa-lo. Nunca! Nenhum deles, porque mesmo sem saber a cor do meu, ele terá sempre todas as dos corações que amo.
Hoje ainda fico. E tu ficas comigo. Não sei se lute contra ti, se te deixe ir comigo ou se vá contigo. Tu e o Amor deixam-me confusa e eu estou cansada de viver e do que significa amar.




"Desistir pode ser um dos maiores actos de coragem que a vida nos coloca à frente."