terça-feira, 19 de julho de 2016

Será a tua pele a mesma desde o último toque? Cheirará o teu corpo ao mesmo perfume que deixaste na almofada? Saberão ainda os teus lábios o que ficou por entre os meus? Haverá aquela íntima timidez no nó deixado no estômago aquando uma simples troca de olhares? Continuará aquele ardor no peito durante um diuturno ósculo? Durará a esperança do que por anos foi impossível? Saberá de cor o teu ouvido o timbre da minha voz? Conhecer-se-ão, não obstante a vida, as mãos que se namoravam a cada segundo de passos dados no correr da calçada?
Passámos a vida a contar passadas. Não arriscámos correr riscos e presentemente nada há por que correr. Calculámos letras e falámos sentimentos. Amámos por dentro e por fora e não de dentro para fora. Víamos com os olhos mesmo sabendo sermos cegos. Cometemos erros acertados e certezas erradas. Virámos os dias noites e os anos do avesso. Voámos com os pés no chão e andámos com a cabeça nas nuvens. Tínhamos tudo para dar errado e tudo para dar certo.
Agora, após largos períodos assinalados por distintas vivências quotidianas, tivemos a azarada sorte de esbarrarmos no acaso do crepúsculo luarento. O tempo parece ter, no entanto, congelado no antigamente, deixando o que havia para deixar e trazendo o que há para ficar. Ambos mudados e constantes no que foi apaixonante ao primeiro encontro. Somos resultado de partidas pregadas por nós próprios por toda a extensão da nossa individual existência. Haverá algum tanto mais desafiante que a porfia entre dois corações teimosamente enamorados?