Quando te comecei a amar, esperava por ti à porta da escola para te acompanhar até casa. Íamos os dois para as mesmas bandas e fazia disso um pretexto para te fazer companhia. Dávamos voltas e voltas até me ir embora e construímos assim a nossa primeira rotina. Afinal, como é possível começar-se um amor sem uma rotina? E digo-te, foi a melhor em que caí, a sério.
Talvez nem reparasses mas tentava arranjar sempre algo para me meter contigo, mesmo que fizesse a maior figura de idiota da secundária. Afinal, como é possível não parecer um idiota quando se tenta conquistar alguém como tu? Mexia-te no nariz e aí ficava, envergonhadíssimo mas satisfeito por te fazer sorrir. Imaginava-me de mão dada contigo sem to dizer e não ligava a mais ninguém. Eras uma rapariga simples e por isso reparei em ti.
Finalmente oficializámos o amor que sentíamos. Foram tempos apaixonantes e únicos. Passámos por grandes dificuldades à medida que conhecíamos os defeitos um do outro mas nem assim nos deixámos de amar. Partilhámos tudo o que havia para partilhar e éramos felizes assim. Fizemos promessas, cumprimos umas e esquecemos outras. Sonhámos juntos e traçámos planos de longa data, sem olhar os senãos. Discordava de muitas coisas que fazias mas apoiava-te em todas as decisões que tomavas, mesmo que elas me afastassem de ti. Sempre te preocupaste muito com as pessoas e ficavas sempre em segundo plano. Aguentei muito mas sei que tu também. Afinal, como é possível haver uma relação verdadeira sem suportes recíprocos? Tornámo-nos os melhores amigos um do outro em tempo record. O amor é isso mesmo, ver em ti a minha melhor amiga.
As coisas começaram a desintegrar-se e começámo-nos a separar aos poucos. Via-te a escapar-me pelos dedos e a desistir da vida como a vias quando te conheci. Não conseguia mais suportar-te e não me facilitavas a vida para que te ajudasse. Afinal, como é possível suportar algo insuportável? Andavas com o mundo às costas e por isso elas te doíam tanto. Já não partilhavas com ninguém esse fardo, nem comigo. Decidi ir, desta vez sem ti. Deixei-te para que, sozinha, te voltasses a construir. Estavas em cacos e não tinha como te consertar por isso fui deixar-te ser quem eras antes da tua auto-destruição.
Passaram semanas, meses, e com o tempo entraram e saíram pessoas das nossas vidas. Pensei conseguir esquecer-te mas no fundo nunca o quis de verdade. Via algo teu por toda a parte. Afinal, como é possível esquecermos o nosso primeiro grande amor? A tua gargalhada infantil era ouvida em todas as crianças, a tua simplicidade era vista em todas as estrelas. De tempos em tempos, admito, ia espreitando a caixa onde guardei tudo o que um dia me deste. Havia sempre uma lágrima que me caía pela cara e um sorriso que ficava. Um dia passei por ti, fingiste que não me viste e continuei caminho. Sei que ainda estás magoada, desculpa. Pareces-me mais confiante, mais... tu. Fico feliz por isso, acredita. Continuas linda, sabes? Eu sei que sabes. Os dias vão passando e nunca irei encontrar em mais ninguém o que me fez apaixonar por ti.
Somos adultos e não sabia de ti há demasiado tempo. Não penses que a distância espacial e temporal ajudou a apagar-te da minha memória. Nunca chegaste a deixar o meu coração, juro. Por não aguentar mais as saudades fui, na esperança de te encontrar, ter ao nosso sítio. Esperei umas duas horas, sabes? até que apareceste. Moras perto e pensei que, mesmo que não por mim, passasses lá só porque sim. Sorte a minha não te teres esquecido de mim nem daquela árvore. Falámos como os adolescentes apaixonados que éramos quando te comecei a amar. Contámos todas as novidades como se nunca tivéssemos sido separados pelo tempo. Rimos e passaram horas até a noite chegar. Finalmente ganhei coragem e olhei-te nos olhos. São tão lindos, sabes?
Da última vez que aqui estivemos não consegui fazê-lo, desculpa. E tu desculpaste. Sei que reparaste no porquê e por isso amei-te. E por isso amo-te. Afinal, como é possível um primeiro grande amor não durar para sempre?