terça-feira, 12 de abril de 2016

aMAR

Tinha o sol no olhar, o perfume do mar e as suas ondas no cabelo. Tinha as irregularidades dos grãos de areia desenhados nas costas e a textura do sal na palma das mãos. Sabia escolher os dias perfeitos para brilhar com a simplicidade de uma concha polida e os momentos ideais para fazer soar a maresia como um búzio abandonado. Tinha dentro de si um oceano infinito que por vezes deixava transbordar pelos olhos, não sabendo ainda muito bem como o controlar. Havia algo de apaixonante na sua personalidade como quem vê o poente sobre o ilustre movimento da água salgada ao longe no horizonte. Não se deixava domar e era o mistério em pessoa. De noite era revolto em sonhos que davam à costa por meio de pequenas expressões faciais. A sua voz era arrepiante, tanto quando ríspida como quando delicada. Era a personificação do mar e era impossível não o amar.

sexta-feira, 8 de abril de 2016

Palavras faladas

Talvez um dia consiga ser boa com palavras faladas. Saiba que dizer quando tenho de falar e não guardar tudo para o papel. É muito mais fácil quando as frases previamente pensadas saem perfeitas nas folhas do caderno usado. Talvez um dia possa ter o poder de abrir a boca e sair um texto nunca antes escrito por mim. Deixe fluir a melodia das sílabas certas nos tempos certos.
Isso ainda não me acontece. Atropelam-se as letras e as pausas parecem infinitas. É um turbilhão constante na minha cabeça, de ideias e questões, que na hora de sairem, ficam presas na língua à espera que alguém as consiga arrancar.
Talvez um dia seja capaz de te falar tudo muito bem falado, como se te escrevesse com a voz. E tu retribuas sonoramente com esse teu timbre único e viciante, que de certo modo me serve de inspiração para um diálogo minimamente digno de ser projetado para o ar. Ando um pouco enferrujada no que toca a conversas a dois, onde um és tu e outro eu. Já não faz parte do meu histórico recente de acontecimentos a música que sai da tua boca e, quem sabe, por isso seja tão difícil para mim comunicar de novo contigo. Se me fosse permitido escrever enquanto me falas, seria simples mostrar-te as minhas opiniões e pensamentos. Mostrava-te aos olhos o que os ouvidos não conseguem alcançar. Saberias de outra forma o mesmo. Eu.
Talvez um dia não precise desse atalho por entre as linhas da folha e te consiga olhar nos olhos e chegar aos ouvidos. E aí, serei boa com palavras faladas.