sábado, 25 de março de 2017

Dezanove de março

Celebra-se o "teu" dia e tu não estás.
Como acontece desde que me lembro, o teu nome é somente uma sombra que me acompanha diariamente. Existes mas não onde de ti preciso. Quero pedir-te que fiques e mandar-te embora para longe (o sítio misterioso onde tens estado). A necessidade de te ter por perto atormenta-me e viver sem ti tornou-se um hábito insuportável. Sempre me tentei consciencializar de que à medida que o tempo se metia no meio de nós, menos de ti precisaria. Sempre fiz de tudo para que, mais cedo ou mais tarde, o nome que te dei não mais fizesse sentido em ti.
Os dias passam. Transformam-se em semanas, meses, anos e continuas por cá, mas aí. A insegurança que instalaste e o fantasma do abandono que me persegue deixam-me retraída na confiança a superiores e receosa da solidão que me causaste. E depois há as dúvidas constantes, aquela esperança ridiculamente imortal e as figuras que te trazem de volta à memória. Lá de quando em quando, admito, há um ou outro minuto em que desapareces e me deixas em paz. É nesse entretanto que consigo ser completamente despreocupada daquilo que não me compete alterar e ser feliz na medida certa, a minha, sem o "tu".
Deixa-me saber-te segredos, fazer-te perguntas e ter de volta o que é meu por direito. Dá-me o que nunca devias ter deixado morrer e fica, mesmo que não por perto. Faz jus ao nome que em tempos foi teu e sê o homem de cuidar e não o de deixar ir (ou de ir). Não sei se tenho saudades tuas mas de uma coisa estou certa, não sinto a tua falta. Talvez sinta um pequeno espaço a preencher pela figura que representas, mas não por ti. És a metáfora que caracteriza o meu vazio oco e sombrio.
Sem a tua existência haveria nada mas há um mundo além de ti. Há amor além de ti, há família além de ti, há pais além de ti. E tudo isso é o mais que suficiente. Tudo aquilo que não és, é o bastante que preenche metade do espaço que deixaste para trás. E a outra metade, fica em aberto à espera que um dia seja suficientemente corajosa para a fechar sem a incansável espera que venhas fazê-lo por mim.


Feliz dia, "pai".