terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Era uma vez, eu amo-te, e o mundo acontece.
Todas as histórias começam por um "e  se". A intriga da existência do amanhã e a novidade. O hoje e o aqui, o tempo ideal no lugar ideal. O estar a ser o indispensável na definição de felicidade, no momento em que estamos nós. E vindo do nada há o suor e o calafrio a percorrer as veias, há o fôlego arrancado, há o dois feito unidade. No início do que começa acontece a história do sem fim, e a nossa vida continua.

O respirar em contratempo, eu amo-te, e o mundo acontece.
É pelos momentos em que ficamos sem ar que vale a pena respirar. O coração bate brutalmente dentro do peito e fora do peito e nas tuas mãos. A adrenalina, toda ela tímida e escondida à vista de todos os cegos por amor, percorre-me da cabeça aos pés por intermédio de impulsos nervosos indomáveis. Sem bases médicas e sei que és a prova viva de que o presente, na sua literalidade, é a causa primordial das paragens cardíacas mais comuns nos que amam.

Indispensavelmente a pele, eu amo-te, e o mundo acontece.
Abraço é a casa onde mora o amor. É no limiar do teu toque que me encontro e me perco. Não há razão na procura incessante da minha mão pela tua e é a loucura que me faz continuar. Tu, que me apertas contra ti e não me largas, levas-me pelo mundo fora no sofá da sala. Entre as tuas mãos e as minhas, a fusão do impossível. Um arrepio e os pêlos eriçados, a "pele de galinha" e nós a sermos o que a pele nos permite.

Um beijo roubado, eu amo-te, e o mundo acontece.
Os teus lábios que teimam em fugir dos meus e eu com sede do que se esconde por de trás deles. A música que falas hipnotiza-me e faz-me crescer água na boca. Sem medo, comete o crime perfeito e rouba-me o maior beijo da história. Prometo não contar a ninguém os génios que somos quando trocamos ósculos nas sombras da noite. Tornamo-nos um a cada instante que o impensável acontece e somos felizes assim.

Tudo ou nada, eu amo-te, e o mundo acontece.
Não há a opção de haver um meio, uma metade, um quase, um mais-ou-menos. Somos 8 ou 80 e nada do que implica certeza é indispensável. A dúvida alimenta a vontade e aumenta o desejo que nos percorre pelas veias. Mergulhamos de cabeça no desconhecido com esperança de encontrar o que nos falta sem que o saibamos. Há sempre algo mais. Algo maior. Algo melhor. Há um tu, há um eu e nada mais importa.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Miguel

Hoje sonhei contigo. Hoje, quase quatro meses depois de teres ido sem nada dizer a ninguém, estive contigo. Invadiste-me o sono de rompante para te poder ver mais uma vez, para te poder abraçar mais uma vez. Sabes há quanto tempo não te tocava? As saudades andavam-me a corroer silenciosamente sem que desse por isso e foi preciso um sonho para ela ficar menos agressiva.
Finalmente pude despedir-me de ti. Não consegui estar presente quando partiste, era demasiado doloroso para o estado do meu coração na altura. Sabes o quão arrasada fiquei? Honestamente não esperava que partisses assim, sem mais nem menos, sem explicação, sem uma simples despedida. Aliás, estou a escrever-te neste momento sem querer acreditar que de nada serve. Eu sei que, estejas onde estiveres, estás a ler isto à medida em que vou passando a minha saudade para o papel. Sei que foste tu e não uma ilusão qualquer quem me abraçou com a maior vontade do mundo hoje à noite. Que foste tu, com todos os ossos e músculos, quem me sorriu como só tu sorris. Que foste tu quem disse, "Olá, desculpa a demora mas aconteceu que tive de ir embora.". Eu sei que foste mesmo tu e agradeço-te por finalmente teres aparecido. Esperei tanto por aquele momento e guardei tudo para mim. Sim, há milhares de pessoas que te conhecem, muito melhor que eu até, mas todas irão concordar quando digo que és único. Em todos os dias da minha vida, viva eu quantos anos viver, nunca irei encontrar por aí uma pessoa como tu. Foste o melhor que me apareceu à frente, e foi o acaso mais incrível de sempre.
No outro dia tentei tocar para ti. Senti necessidade de me ligar a ti novamente mas a memória impediu-me de acertar nos acordes e fiquei irritada comigo mesma. Senti que te estava a trair. Que a parte que tinha guardado para ti estava a desaparecer e não podia permitir que isso acontecesse. Ontem, voltei a tentar e automaticamente toquei como se estivesses à minha frente, com aquela calma que te é característica, a ensinar-me novamente a viver. Senti, nesse instante, um arrepio e um sorriso a aparecer sem convite. Contive a lágrima que agora me corre pela cara e sorri sem ninguém perceber o porquê.
Obrigada pela visita meu querido. Sempre que quiseres voltar, sabes onde me encontrar. Vou estar sempre aqui, de braços abertos, pronta para mais um abraço dos teus, bem apertado e com o amor que só tu sempre soubeste dar.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Comecei a amar-te pelo som da guitarra. Tocas para quem quiser ouvir sem o quereres e eu ouço-te. A tua voz entra-me directamente no peito que palpita ao ritmo das dedilhadas. Enquanto estou, inevitavelmente acompanho-te em silêncio e sorrio. Mas tu não vês. E tu sorris. Dás tanto de ti à música que crias e se isso não for a maior prova de amor, então não há amor nenhum no mundo.
Todos os dias, à mesma hora, lá estás tu no mesmo banco de jardim a tocar à multidão que por ti passa com pressa. Passas despercebido entre passos e correrias sem que o tempo te impeça de viver. Não entendes o porquê da urgência das pessoas e o que as leva a temer a morte, se passam a vida a correr para ela. Encontras nas notas musicais um refúgio para o teu coração. Não sei se é grande, se é pequeno, mas pela quantidade de arte que guarda, imagino que seja do tamanho ideal para me amar como já te amo desde sempre.
Toca para mim, tocas? - e tu tocas, olhas-me pelo canto dos teus grandes olhos castanhos e tocas com um sorriso que só mostras quando amas. Não sei se amas a melodia se me amas a mim, mas eu quero acreditar que amas ambos. Para que saibas, não saio daqui enquanto não me cantares como quando por ti me fizeste apaixonar loucamente, como só tu cantas, como só tu fazes amar, como só tu amas. E podem passar dias, meses, anos. Ensinaste-me sem nada me ensinar que não se pode ter pressa. E no que toca a ti, vou ter a maior paciência do mundo.

Voltei, ontem não me amaste como te amo e voltei para que me ames hoje pela primeira vez. Já se está a fazer noite e de ti nada sai senão o costume, novidades e surpresas que não a que espero e desejo. Canta para mim, cantas? - e tu cantas, olhas-me nos olhos e cantas com o sorriso que só mostras quando me amas. E eu sei que sempre me amaste, como sempre te amei, desde a primeira vez para sempre.

364ª carta

Meu sempre querido Romeu,

tudo o que na minha vida antes de ti me levou ao momento em que pela primeira vez nos cruzámos, eu prezo e agradeço por não ter sido diferente. Todas a decisões, sofrimentos, alegrias, amizades e perdas permitiram que conhecesse aquele que, sem que imaginasse, viria a ser o meu primeiro grande amor.
Desde sempre acreditei que os verdadeiros amores, aqueles que valem realmente a pena, são os que nos aparecem à frente quando menos esperamos. Esses, que nos tiram o sossego e causam arrepios na barriga, fazem-nos crer que não há nada que nos faça mais feliz, metem-nos medo e dão vontade de querer mais. A mim aterrorizou-me, tu sabes disso. Fiquei aterrorizada com o que me fazias sentir somente com um olhar, com um sorriso, com um olá
Somos feitos das escolhas que fazemos, mas amar-te não foi algo que tenha escolhido. Simplesmente aconteceu e para mal dos meus pecados foi a melhor não-escolha que fiz. Nenhum de nós imaginava que do nada surgisse tudo. Foram os dias mais felizes da minha vida. As noites mais felizes da minha vida. As brigas mais felizes da minha vida. Sim, desculpa-me a constante redundância, mas é para que não esqueças que foste o melhor da minha vida. E o pior. Foi também contigo que passei o pior. Sofri o pior e chorei o pior. Mas é normal, pois era amor e não seria amor sem o melhor e o pior.
No dia em que tudo chegou ao fim já algo em nós, que não queríamos deixar, tinha morrido há tempos. Mas não quisemos o suficiente. Quando finalmente lutei por ti, vi que estava a lutar contra ti. Depois de tanto, ficou tão pouco. O amor que havia em mim superou pela primeira vez o que permitia que o meu coração sentisse. Foi obstinado e não lhe bastando estar apaixonado por ti, ele apaixonou-se loucamente. Mas de nada me serviu pois o teu, embora me amando como sempre, estava longe. Por razões que não conseguimos controlar e por motivos que não pudemos evitar, os nossos mundos acabaram por seguir rumos diferentes. Voltaste a ti e deixaste-me como me tinhas encontrado para voltar a ser o que outrora tinha sido. Não sinto mais mágoa e devo-te a minha felicidade. Permitiste-me viver e acreditar naquilo que pensava com todas as minhas certezas que não existia. Deixaste-me amar-te e amaste-me perdidamente.
Um dia, meu querido, se nos encontramos num acaso que desconheço, vou-te sorrir e lembrar todas as aventuras que tivemos e todo o amor que partilhámos. E é exatamente esse tipo de amor que te quero, que quero que seja teu de novo, que seja meu de novo.



Com amor,
Julieta