segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

Não te escrevia há muito tempo. Não usava a tinta da caneta para desenhar os contornos do teu corpo, nem o papel para delimitar a tua existência, desde aquela manhã em que era eu sem ti. Penso não o ter feito mais cedo por medo de te trazer de volta à vida, de te dar novamente um lugar na minha secretária, no meio dos meus pensamentos amarrotados e não permiti que me saísses de dentro para uma superfície em branco. Deixando a cobardia de parte, hoje arrisquei. Sentei-me de frente para o caderno onde te tenho escondido e reproduzi-te por meio de linhas e sombras, através de palavras soltas que, apesar de ordenadas, pareciam não ter sentido.

Do que falamos quando falamos de amor? Damos-lhe um nome, atribuímos-lhe uma pele, um cheiro, uma voz, um olhar. Durante tempos, indefinidos por não querer atribuir números quando se ama, a minha definição preferida de 'amor' era o teu primeiro nome. Comecei a amar-te no dia em que o disse numa conversa contigo e soube que era feliz. O amor pode perfeitamente ser apenas um nome de quatro letras.
Falo de ti como falo do acontecimento mais natural e fantástico da vida. E é tão bom, falar de ti, da vida e do amor sendo um. E é tão mau, falar de ti como um passado distante e inalcançável. 

Lembro-me de ter pousado a caneta algures nestes pensamentos e de respirar fundo. Não sabia se deveria parar ou continuar a escrever todas aquelas loucuras que tinha presas na cabeça e que estavam prestes a fugir pela mão. Fechei os olhos e imaginei, em forma de imagens concretas, todo o ser complexo que personificava o amor, naquele exacto instante. A figura, translúcida, não desaparecia com o passar dos minutos e parecia olhar-me profundamente, como quem é atravessado pelo primeiro raio da manhã. Limpei o canto dos olhos e continuei.

Tenho saudades de te amar, de te saber de cor, de percorrer sem medo as imperfeições da tua personalidade. Não sei mais o que és e o que sou agora é-me estranho sem ti. A tua voz ecoa no meu inconsciente e invades os meus pensamentos sem pedir permissão. Fui viciada em ti e, como todas as drogas, o amor é doloroso de ressacar.
Pode-se não amar em quantidade? Amar apenas, na sua plenitude, sem limites ou restrições. Um amor sem palavras certas ou erradas, sem meios-gestos, sem nenhum "e se?". Um amor pequenino e frágil, capaz de aguentar todas as tempestades dos nossos dias. Um amor como tu. Como eu.
Um dia vou olhar-te de novo. Uma segunda primeira vez. E se me voltar a apaixonar, saberei que foste inteiro comigo. Terei a certeza de que o amor, tem mesmo quatro letras.

Empurrei a cadeira para trás. Meia dúzia de linhas depois e sentia-me mais exausta que nunca. O coração estava num aperto, as mãos a suar, os olhos rasos de saudade e a vida parada. Deixei-me ficar paralisada e quando o meu corpo permitiu, apaguei a luz. Não te escrevia há muito tempo e nem o tempo te apagou de mim.

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